sexta-feira, 1 de março de 2013

KARPOV, 1968

 "A. Karpov"  1  x  0  "E. Guik"
Campeonato da Universidade de Moscou, 1968
Defesa Siciliana: Variante do Dragão
Comentários: Anatoli Karpov e Evgueni Guik

[Campeonato da Universidade de Moscou, 1968. A. Karpov: Esse foi meu primeiro torneio na capital e para conquistar a Moscou enxadrística teria que vencer. Na vez seguinte viajei a Moscou três anos depois com o título de grande mestre para participar do Memorial Alekhine, onde se reuniram enxadristas muitos fortes fiquei empatado na primeira posição. Penso que consegui cumprir definitivamente meu objetivo ao longo de três anos, quando ganhei na capital dois matches de pretendentes, na quarta de final e final. Só dez anos depois daquele torneio universitário decidi mudar-me para Moscou. Quem poderia imaginar que meu adversário dessa partida seria posteriormente meu co-autor do livro (Mosaico Ajedrecistico). E. Guik: Em 1968, meu adversário era todavia jovem mestre e estudante do primeiro ano da faculdade de mecânica e matemática da Universidade de Moscou. Eu desde então havia terminado os estudos nessa faculdade e por isso considerava minhas chances nesta superiores. Sem dúvida, o estudante derrotou o graduado e se proclamou campeão da Universidade, entretanto eu fiquei a um ponto. Meu adversário não podia supor que enfrentava seu futuro co-autor, eu tão-pouco não sabia que meu adversário sete anos depois seria o enxadrista mais forte do planeta!]

1.e4 c5 2.Cf3 d6 3.d4 cxd4 4.Cxd4 Cf6 5.Cc3 g6 6.Be3 Bg7 7.f3 O-O 8.Bc4 Cc6 9.Dd2 Da5 10.O-O-O Bd7
 [ A. Karpov: Assim é como jogamos a Variante do Dragão (a sua imagem da constelação se parece com a distribuição dos peões pretos nas cincos verticais da direita). Os planos dos dois lados nesta posição é bem conhecido, as brancas atacam no flanco do rei entretanto as pretas buscam o contrajogo no flanco da dama. A história desta variante é uma das mais emocionantes e enigmáticas da teoria enxadrística - tantas vezes foi rechaçada categoricamente e tantas vezes volta a renascer - devemos reconhecer de todos os modos que a expressão “tormento dragonianico” não é em vão. As pretas receberam mate um pouco antes delas mesmas alcançarem o rei inimigo. E. Guik: Creio que nos anos transcorridos o campeão mundial jogou com brancas uma dezena de vezes de partidas empregando a Variante do Dragão, a maioria delas contra grandes mestres, e não fez nenhum empate!] 




11.h4 
[ A. Karpov: Na revista Shájmati v SSSR (O Xadrez na URSS) No 07 de 1968 foi publicada a partida Bijovski - Guik que ganharam as pretas ao escolher esta variante. E. Guik:  De fato, eu estimei, já que pude vencer o treinador da seleção juvenil soviética, com certeza derrotaria um dos seus pupilos. A. Karpov: Assim houvesse acontecido, talvez, se eu tivesse jogado como Bijovski 11.g4. Mas me preparei para esta partida e escolhi uma continuação mais perigosa, vinculada com o avanço do peão de h.] 

11... Ce5 12.Bb3 Tfc8 
[ E. Guik: Apesar de conseguir refutar a transposição da torre da coluna f para c8, no ato os engenhosos analistas propõem as pretas colocar nesta casa a torre da coluna a, e quando se refuta essa manobra voltam a recomendar a transposição da torre da coluna f para c8. Assim se cria a teoria da Variante do Dragão.] 

13.h5 Cxh5 14.Bh6
[ A. Karpov: Naquela época, essa posição estava muito na moda, e fundamentalmente se mantinham acalorados debates em torno da continuação 14... Cd3+. A principio se estimava que esse assalto do bispo a h6 era impossível devido ao xeque, mas depois se estabeleceu que neste caso as brancas conservam supremacia 15.Rb1 Cxb2 (15... Bxd4 16.Cd5!) 16.Rxb2 Bxh6 17.Dxh6 e então nem 17... Dxc3+ nem 17... Txc3 dava as pretas suficiente contrajogo. Nesta partida, eu quis provar algumas das minhas idéias, mas o meu adversário se esquivou das minhas análises caseiras. E. Guik: Era melhor não ter feito isto.] 




14... Bxh6 15.Dxh6 Txc3 
[A. Karpov: Sacrifício habitual de qualidade em semelhantes situações. Por um lado, as pretas se livram para sempre da ameaça do cavalo em d5, e por outro aspiram alcançar quanto antes o rei branco.] 

16.bxc3 Dxc3 
[E. Guik: Era difícil supor que já esta captura é um erro crucial. Eu sabia que 16... Cf6 conduz a um jogo agudo, mas creio que não era obstáculo tomar o peão.] 

17.Ce2! [  A. Karpov: Começo de uma longa e forçada manobra. O cavalo cumpre a mil maravilhas a tarefa de expulsar a dama e de passagem se incorporar ao ataque no flanco do rei.] 

17... Dc5 
[ E. Guik: Num artigo teórico que li pouco antes dessa partida, a jogada 16... Dxc3 se refutava pela resposta 17.Rb1. Mas depois se estudava nada mais que as continuações 17... Cc4 e 17... Cf6, entretanto eu tinha esperanças em 17... a5! O modesto lance do cavalo foi para mim uma surpresa. Pude censurar-me com amargura que depois de 17... Cd3+ 18.Txd3 Da1+ 19.Rd2 Dxh1 20.g4 Cg3 21.Dxh1 Cxh1 22.Re3! e 23.Td1 meu cavalo caia em emboscada.] 

18.g4 Cf6 19.g5 Ch5 20.Txh5! 
[A. Karpov: Não havia que perder tempo. A jogada 20.Cg3 que quase fiz tive que rechaça-la pela eficaz refutação descoberta no último momento 20... Bg4!, e a dama branca fica anulada do jogo.] 

20... gxh5 21.Th1 De3+ 22.Rb1! 
[ A. Karpov: A Variante do Dragão se destingue poque a mínima imprecisão pode levar a perder tudo. Assim, por exemplo, 22.Rb2 dava as pretas pelo menos o empate 22... Cd3+ 23.cxd3 (23.Rb1 inclusive perde depois de 23... Dxf3!) 23... Dxe2+ 24.Ra1 Dxd3 e as pretas teriam assegurado o xeque perpetuo.] 

22... Dxf3 
[ A. Karpov: A sorte do cavalo não é tão importante quando se trata da vida do rei preto 22... Dxe2 23.Dxh5 e6 24.Dxh7+ Rf8 25.Dh8+ Re7 26.Df6+ Re8 27.Th8 mate. E. Guik: Eu vi que perdia 22... e6 23.Dxh5 Dxf3 (23.... Cg6 24.Dxh7+ Rf8 25.Cg3 e 26.Cf5) 24.Dxh7+ Rf8 25.Cd4, mas estava tranqüilo pela minha jogada.] 




23.Txh5 e6 
[ A. Karpov: As pretas não podem defender a casa h7, porque em caso de 23... Dxe4 resolve 24.g6! Dxg6 25.Tg5. Também é difícil salvar-se depois de 23... Cg6, por exemplo 24.Dxh7+ Rf8 25.Th6 e6 26.Txg6 fxg6 27.Dxd7 Dxe2 28.Dxd6+ Rg7 29.De7+ Rh8 30.Df6+ Rh7 31.Df7+ Rh8 32.Dxg6.] 

24.g6! 
[ A. Karpov: Peão ousado, sacrificando-se facilita a ruptura da defesa das pretas. A jogada presunçosa 24.Dxh7+ deixaria as pretas em liberdade 24... Rf8 e então não se podia 25.Dh8+ Re7 26.Dxa8 devido a 26... Dxh5, como tão pouco 25.Cd4 porque 25... Dd1+ 26.Rb2 Dxd4+.] 

24... Cxg6 
[ E. Guik: Não serve capturar como peão 24... fxg6 25.Dxh7+ Rf8 26.Dh8+ Re7 27.Th7+ Cf7 28.Dxa8, mas depois de tomar com o cavalo eu previa a proximidade da vitória, poiso ataque das brancas havia sido rechaçado e alem do mais faltava dois peões.] 

25.Dxh7+ Rf8 26.Tf5!! 
[ E. Guik:jogada com a torre foi para mim como uma bomba. essa fina idéia geométrica resolve a golpe a sorte da partida. Duas linhas se cruzam num ponto crítico f7. Ameaça Dxf7++, com a particularidade de que a torre apoia a dama pela vertical e o bispo, em caso de 26... exf, pela diagonal. As pretas não tem outra saída do que despedisse de sua dama. Aqui eu compreendi que subestimava as aptidão matemática de meu oponente. A solução rigorosa geométrica da posição asseguro ocorreu ao estudante graças ao estudo profundo de geometria analítica.] 

26... Dxb3+ 27.axb3 exf5 28.Cf4! 
[ A. Karpov: Outro golpe contundente. As brancas aproveitam que a torre a8 está indefesa e destroem por completo a cobertura do rei preto.] 

28... Td8 29.Dh6+ 
[ A. Karpov: Última pequena sutileza, as brancas querem tomar o peão g6 com xeque.

29... Re8 30.Cxg6 fxg6 31.Dxg6+ Re7 32.Dg5+! 
[ A. Karpov: A exatidão dos lances é necessário até o final, depois de 32.exf Tf8, as pretas ainda poderiam resistir. Agora contra a impetuosa marcha do peão f não tem defesa.] 

32... Re8 33.exf5 Tc8 34.Dg8+ Re7 35.Dg7+ as pretas abandonam. 
[E. Guik:  Caso raro em que o perdedor também ficou satisfeito. Naturalmente, da qualidade da partida, mas não do seu resultado! No artigo que saiu na Shájmatnaya Moskvá (Moscou Enxadrística) consagrado ao Campeonato da Universidade de Moscou, eu manifestei que estava despontando um novo campeão porque ele durante o torneio continuamente abandonava Moscou para participar em Riga do Campeonato Nacional de Equipes. Desta forma, Ele colocava os participantes do torneio em situação desfavorável, porque estes deviam jogar por antecipação, revelando suas cartas ao adversário principal. No Campeonato Nacional de Equipes de Riga, onde o estudante universitário obteve o melhor resultado absoluto, dez pontos em onze, era mais importante, porque constituía uma das etapas eliminatórias para o Campeonato Mundial Juvenil. A. Karpov: De toda forma, como é grato recordar a juventude!] (1-0)

[ Lv. Mosaico Ajedrecistico, ed. 1984,  pag. 123-126 ]

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